quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A pantera cor-de-rosa ficou intacta, sentadinha, cabecinha descançando no ombro, pezinhos juntos pra cima, olhos grandes e revoltados dentro de um corpo que nem mexe, encima do criado mudo sem gavetas, ao lado da metade que sobrou do abajour.

Os fatos, estão desenhados em meio a objetos quebrados e jogados, por fora da realidade, tudo é caos, a verdade se esconde numa caixinha guardada dentro do peito, e trancada a quarenta chaves e que a mente humana não é capaz de desvendar. Minha mente é humana. A sala é o mundo, e as pessoas são as baratas. Eu? A pantera cor-de-rosa, que olha sentada, sem dor, sem atitude e sem conseguir se mexer.

Olho pra mim, esse cabelo encebado, comprido para o meu corte, essa barba mal desenhada e essa boca seca e rachada, a camisa azul mal abotoada colore minha vida sem cor. Meus passos, e a calça de pijama levam meus dias ao mais alto patamar do desperdício. Do talento jogado fora. Uma vida alheia, em diversões que não rendem e pensamentos que não evoluem.

Como eu posso não me lembrar de nada? O que se passou, e como tudo ficou, minhas fotos, perfumes, restos de comida. Em alguns momentos eu tenho a visão nítida da vida, mas no resto, me perco e vou vivendo sem função. Vivo da pior maneira possível no capitalismo, que não me desce. Minha criatividade é desviada a uma desvendadora moeda, O poeta de giz é apagado com sagacidade e verocidade. Ai o amor!

E a loucura o que seria? Se não mergulhar de cabeça num precipício, onde a escuridão é a única passagem, onde os sonhos e os personagens criados por mim mesmo são todos realidade. A vida desmonta os quebra-cabeças e desconstrói tijolo por tijolo, substituindo a experiência nata, por experiências em vão. Sou fardado a ser o que não sou, o que não quero, o que não combina comigo mesmo.

Enquadrado ou não no mundo dos humanos, eu quero me organizar. Quero limpar tudo, desejo que as baratas vão pra longe, e que em cada prato que eu lavar com minhas próprias mãos, eu desvende um mistério e tenha paixão pelo que me cativa, que é cativar os outros. Eu só sou apagado, quando não me reconheço. Um tanto pré-potente dizer que o meu eu é auto-suficiente no quesito sou o que sou. Minhas verdades, se esquivam ao trombar em desafios. São deslumbrantes as cenas de filme que me aconteceram. Quero fazer da minha rotina, uma nova a cada dia. Serei um marinheiro que acorda, pensando estar na sua cama da infância, mas que a cada dia renova sua abstração pelo novo elevando o que é importante para si como o que veio antes. O que cativou antes, o que tornou tão belo de se ver o novo, que causou a impressão errada. A impressão de que denovo, poderia existir o melhor. Mas que só se encontra, só se reconhece nas mesmas, velhas coisas. Como nossos pais. Como nossos pais. Como nossos pais.